Entre o universo e o Céu… a poesia de Bárbara Pravi na Casa da Música

Podia-se simplesmente dizer… “Voilá”, Bárbara Pravi apresentou-se ao vivo em Portugal. Mas pode-se dizer muito mais. A começar pelo nome da artista francesa, Pravi, palavra sérvia que significa autentico, e terminar no nome do seu disco de estreia, “On N’enferme Pas Les Oiseaux“, a liberdade e a autenticidade de mãos dadas no concerto que Barbara ofereceu a todos os que se deslocaram à Casa da Música na noite desta terça feira, 26 de Abril.

Numa viagem temporal única, mas com um toque atual, Bárbara Pravi recuperou a sensualidade da Chanson Française, num registo carregado de modernidade e atualidade, mas percorrendo as sombras e as glorias de nomes como Juliette Gréco, Berthe Sylva ou até Josephine Baker, não descartando umas pinceladas de influências musicais longe do universo francês.

As canções de Pravi são poesia pura dentro de um universo fechado, poesia construída sob uma vivencia da artista (ou talvez não), onde o amor assume o papel de relevo. Confessando musicalmente os seus amores e desamores, o diálogo nas canções acentua a carga emocional que se vai desenrolando ao longo do seu declamar em palco. Dona de uma voz profunda, forte e sensual, as suas canções recuperam uma linguagem corporal acentuada, transportando o palco da Casa da Música para ambientes avant garde do filme “As Bailarinas” de 1974 de Bertrand Blier, mas longe do seu complexo ajuste de contas com a herança libertária da década de 60.

 

Bárbara escreve canções para as pessoas, não são dela, são de quem as ouve, as escuta e as absorve, canções que enfatizam o poder feminino, muitas vezes as vítimas de desgostos amorosos. Canções que confortam os dilemas pessoais e as suas escolhas. Descalça em palco, carrega em si uma carga dramática nos temas que musicalmente aborda, enfatizando de forma poética as diferenças entre o céu e o universo.

Apaixonada por canções tristes, revela que também gosta de canções alegres e de ambientes de festa, mas o seu modo e estilo de festa é singular. A chuva transforma-se em festa. A chuva e as gotas de chuva constroem o seu imaginário de festa, o contraste da alegria da chuva que cai nas janelas, conforta Barbara, no sentir do ruido das gotas de agua, recriado pelo público na Casa da música, enquanto que se aconchega com o seu gato…. Ao som de “La fête”

Mas Bárbara não é só tristeza, a chuva leva-nos para os becos de Paris, onde a melancolia ganha ritmo que se espelha num qualquer cabaré obscuro, numa noite chuvosa de inverno. Uma noite de dor, de partida, de saudade imposta pela separação, espelhada na poesia das suas palavras, que abraça a adolescência perdida a que apelida de… “l’homme et l’oiseau”

A sua melancolia leva-a a locais perdidos, locais onde se perde entre a multidão, locais que a levam a Barcelona, onde a paixão ganha o nome de José… entre a alegria de “Je L’aime, Je L’aime, Je L’aime”. “Je L’aime, Je L’aime, Je L’aime” liberta a euforia de Bárbara, liberta a paixão, salpicada em tons de vermelho, refletida nas luzes de palco, num vibrante reencontro com os já referidos cabarets da cidade luz.

Sem sede de vingança, Barbara não se esquece dos homens, muitas das vezes os culpados dos desgostos e desamores, os homens que apelida de “Mes Maladroits”, talvez os homens de Barcelona, a que se refere como My lovely city boys… Entre o retrato masculino e a liberdade sentida com “Voilá”, enaltece de forma mundana do ser e do corpo feminino em “La femme”, a liberdade de ser mulher…

A noite já vai longa, Barbara parte no frequência e no ritmo da sua poesia, uma viagem que termina no céu, num canto aos anjos, porque cantar vale a pena, cantar revela todos os anjos que despontam em todas as alegrias da vida, a vida não pode ser desperdiçada, como ou sem desgostos, com ou sem tristeza, “Prière au soleil”, “Prière pour soi” e “Prière pour chanter”

 

 Alinhamento

Prière au printemps

Le jour se lève

Barcelone

Louis

CHAIR

Le Malamour

La fête

l’homme et l’oiseau

La vague

La ritournelle

Je l’aime, je l’aime, je l’aime

Mes maladroits

La femme

Saute

Voilà

 

Prière au soleil

Prière pour soi

Prière pour chanter

 

Reportagem: Sandra Pinho

Fotografias : Paulo Homem de Melo

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