Eliane Elias na Casa da Música… soube a muito pouco

Após um interregno de 3 anos, Eliane Elias regressou a Portugal para uma mini digressão de 4 concertos que se iniciou em Lisboa e termina no próximo sábado na Figueira da Foz. Na passada quarta feira, 15 de maio, apresentou na Casa da Música no porto em formato Trio. Eliane Elias ao piano, Marc Johnson no contrabaixo e Tiago Michelin na bateria.

Eliane Elias é uma artista do tamanho do mundo, com uma carreira com mais de 26 discos editados. No inicio do concerto recorda a primeira vez que tocou no Porto, pois celebrou na cidade invicta o seu aniversário. Desde esse concerto já perdeu a conta e segundo a própria foram mais de 4 a 5 vezes que atuou.

 

O morro não tem voz” foi a canção de abertura do concerto, um original de António Carlos Jobim. Seguindo os clássicos da música Brasileira prossegue o concerto com um tema original de Ary Barroso que recupera as raízes brasileiras, como coqueiros e tantas outras coisas, a aquarela do Brasil. Temas que fazem parte do álbum “Made in Brasil” que foi, segundo ela própria, o chegar do reconhecimento com a obtenção do Grammy depois de 9 nomeações e 25 discos editados. No ano seguinte ganhou outro prémio com o disco “Dance of Time”. “Há que nunca desistir” disse sorrindo.

O tema seguinte que apresentou foi gravado em Londres com Roberto Menescal e quem conhece o trabalho dela sabe que “ela contou toda a música e ele só dizia você!” Questionou o público se conheciam a música e prontamente disseram que sim e foram incumbidos de cantar o você mas foram poucos os que se atreveram.

You and the Night and the Music”, um instrumental original de Bill Evans, brilhantemente interpretado ao piano e acompanhado pelas cordas do contrabaixo, serviu de abertura para o tema “Sambou, Sambou” do álbum “Dance of Time”, lançado na celebração dos 100 anos do samba, sendo o disco que lhe deu o segundo Grammy.

Uma verdadeira mestre das teclas, inicia a canção seguinte com um solo de piano, interpretando “Por causa de você”, um tema mais nostálgico, contrastando com o ritmo do anterior, tendo as luzes baixado, existindo apenas um foco sobre a própria Eliane, proporcionando uma maior intimidade ao tema.

No tema seguinte as luzes voltam a ‘subir’, os restantes músicos acompanharam Eliane num ritmo do jazz com uma mescla de bossa nova e samba, trazendo novamente o ritmo ‘groove’ à sala suggia.

No seu último álbum lançado no ano passado , “Music from Man of La Mancha”, teve a honra se ser convidada pelo encenador da peça “Men of the La Mancha” a interpretar a música com total liberdade artística. As canções que compõem este disco foram gravadas à 23 anos, e devido a problemas contratuais só foram lançado ano passado. Confessa que há 23 anos atrás o baterista “estava ainda a aprender a gatinhar” arrancando uma gargalhada do público. Ficou surpreendida pelo disco ter chegado a número 1 na Billboard Jazz Chart e no iTunes em vários países.

Desse disco recupera “To Each His Dulcinea”, desvendando um pouco a história da canção para ajudar o público a perceber a música, disse que “Dulcineia é uma prostituta e ele, o D. Quixote a olha com o olhar mais puro”. No final arrancou alguns ‘bravos’.

Uma pequena fofoca segundo a compositora, tem ritmo do carnaval do Norte. No início o rufar da bateria leva-nos imediatamente para um ambiente carnavalesco, mas rapidamente estamos envolvidos por outras sonoridades que nos transportam para locais longe dos habitualmente retratados sobre o Carnaval do Brasil.

O concerto aproximava-se do final e Eliane Elias apresentava a última canção… “Vamos encerrar este espetáculo com uma pequena viagem de António Carlos Jobim. É a música perfeita para acabar qualquer espetáculo porque nunca sai igual duas vezes e é sempre uma surpresa mesmo para nós”.

A luz baixa novamente e o piano volta a brilhar sobre o holofote. A acústica fenomenal da sala Suggia para este tipo de espetáculos permite que o som nos envolva, e que nos abrace pelas costas, como alguém que chega e nos surpreende quando menos esperamos. O contrabaixo entra mas desta vez com o auxílio do arco, já o solo de piano ia longo, e um arrepio percorre o corpo, a melancolia e a tristeza invade-nos por momentos até que entra a bateria e o ritmo aquece. Esta sequência fez lembrar a Primavera, o Inverno e depois o Verão passando ligeiramente pelo Outono.

 

Eliane tinha razão, e foi sem dúvida a surpresa da noite e seria melhor forma de fechar esta atuação pensávamos nós… O tema arrancou rasgados elogios do público durante a atuação e terminou com ovação em pé, trazendo de volta a artista ao palco para uma espécie de ‘discos pedidos’.

Surpreendida com o conhecimento do público sobre o seu repertório, a escolha recaiu sobre “Chega de saudade”, indo de encontro ao pedido mais sonoro ouvido na sala. Um “agora vocês cantam comigo” com o encanto adocicado do português brasileiro, fez sorrir quem estava presente, e o público acedeu ao apelo tendo a artista ficado surpreendida pela entrada do refrão do “Só danço o samba” nos momentos certos.

Apesar de ter durado uma hora e meia o concerto soube a muito pouco, e acredito que não fui a única a sentir isso.

Ainda durante o espetáculo, pediu para pararem de gravar o concerto com o telemóvel. “O concerto é apenas para ser partilhado entre ela e quem está na sala num clima de intimidade”, tendo o público acatado. Várias vezes durante as interpretações, o público espontaneamente aplaudiu a entrega dos três artistas em palco.

 

O espetáculo segue agora para Aveiro.

Por imposição da artista não foi possível fotografar o concerto.

Reportagem: Júlia Oliveira / Fotografia: DR

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