Disrupção Punk e convulsão social nas memórias de Maria Gambina

Ao segundo dia o Portugal Fashion regressou ao Sofá, ou melhor, foi no sofá que recebemos mais três propostas de designers nacionais, Inês Torcato, Maria Gambina e Miguel Vieira.

De linhas sóbrias e austeras, Maria Gambina trouxe à memória colectiva a convulsão social e económica vivida em Inglaterra a partir do fim da década de 70. A incursão de Maria Gambina por territórios turvos e solitários de inquietude e incerteza, já não instigadores de disrupção punk mas agora permeados por delicadeza e movimento.

A colecção, caracterizada por uma silhueta volumosa e ritmada, é harmonizada com detalhes deslocados, com picos metálicos e layers plissados. Neste contraste projecta-se a frustração perante a injustiça, a desilusão sistemática que atravessa todas as crises, incluindo a contemporânea.

Neste contraste projeta-se ainda uma linha narrativa que a criadora tem vindo a explorar no seu trabalho mais recente, a Construção de Chico Buarque (P/V 2019) e as palavras “Ganância”, “Merda” e “Mentira” inscritas nas sweatshirts do último Outono/Inverno. Em todos estes casos reclama-se uma voz.


Reportagem: Paulo Homem de Melo

Fotografias: Dulce Daniel (Bastidores) / João Bettencourt Bacelar (Colecção)

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