Diogo Alexandre Trio apresentou-se ao vivo na Casa da Música

Diogo Alexandre TrioDiogo Alexandre (bateria), Xan Campos (piano) e Francisco Brito (contrabaixo) entram no palco da Sala 2 da Casa da Música às 19h30, frente a uma sala praticamente cheia.

 

O piano toca uma melodia harmoniosa, poucos compassos e entram bateria e contrabaixo, trazendo uma complexidade agradável ao tema, que evolui para um piano mais dissonante a cada repetição, repetição esta que soa a reinvenção, reinterpretação, nunca uma cópia do momento anterior. Os sons do contrabaixo são tão sentidos quanto apreciados, tão reconfortantes quanto perturbadores; Graves e redondos e quentes e tão vincados, marcados, melódicos…

 

Festinhas de vassoura nos pratos, a outra mão suavemente toca nas peles, sem darmos por isso tem já duas baquetas que enchem a sala de sons calmos, precisos, intensos. Estas substituições de baquetas, vassouras, mãos e ainda outros materiais são tão rápidas e limpas que só as notamos pela diferença que existe no som, surpreendendo-nos sempre, pois apenas um muito atento espectador teria reparado nos movimentos das mãos que as executaram. Diogo Alexandre surpreende também pelo profundo conhecimento que apresenta sobre o seu instrumento, utilizando-o e aproveitando-o na sua totalidade, estruturas e suportes incluídos.

Cada um em seu universo e, ainda assim, sente-se um tema e não três, uma coesão que admira e capta a audiência. Xan Campos ultrapassa a faceta mecânica do piano, muitas vezes intransponível, tocando-nos com cada nota dedilhada. Paixões e desamores, graves e agudos, ensurdecedoramente perto de silenciosos, surpreendentemente volumosos, o jogar e conjugar de todas as possibilidades. Ligados e saltitantes, por vezes tão preenchido outras tantas desocupado, sentimo-nos como que a ouvir, com precisão absoluta, a complexidade da vida; consolidada em pouco mais de uma hora.  É possível identificar que temas são da autoria de Diogo Alexandre: a bateria é indubitavelmente livre, plena.

 

Fosse a banda sonora de um filme, saberíamos que algo muito importante se aproxima. Um misto de curiosidade e receio impregna as mentes dos presentes, compelidos a avançar pela inquestionável beleza das melodias rítmicas fornecidas pela bateria a solo. Um crescimento, tanto de volume quanto de preenchimento indicam a proximidade da entrada dos contrabaixo e piano que, claro, se realiza. Mas antes que se pensem que essa reentrada foi, por isso, previsível, deixem que vos esclareça: quando o espaço entre sons da bateria alcançou o seu mínimo e o volume a sua máxima intensidade entraram o piano e o contrabaixo, pequenos, suaves.

E enquanto estes parecem acalmar, amansar a bateria, esta instiga-os a ir mais longe, os três músicos, os três instrumentos unidos como se de um único – muitíssimo complexo- organismo se tratasse.

 

Reportagem: Miranda R-Reker
Fotografia: DR (Casa da Música promo)

Partilha