Conjunto África Negra regressa a Portugal esta sexta-feira

Entre o recente revivalismo da música feita nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), objeto de viagens por colecionadores de discos e alvo de reedições por editoras, encontramos o Conjunto África Negra, uma dos nomes maiores da música São Tomé e Príncipe.

Formados em 1974, o Conjunto África Negra tornou-se num dos mais amados e conhecidos grupos da música são-tomense, mas demorou a atingir o reconhecimento além-fronteiras. Na primeira metade da década de 70, o Conjunto África Negra apresentava-se ao vivo no circuito dos “fundões” na capital São Tomé. Os “fundões” eram bailes informais, que ocorriam ao ar livre e eram formados por diferentes comunidades locais: os mestiços, descententes de colonialistas portugueses e escravos africanos, os Angolares, descendentes de escravos angolanos naufragados que se fixaram em comunidades piscatórias, e os descendentes de trabalhadores contratados cabo-verdianos e moçambicanos que tinham vindo trabalhar para as plantações de café e cacau na ilha.

O burburinho à volta do grupo começava a ser criado nos “fundões” e os inúmeros temas de sucesso ganhavam espaço entre as comunidades, fazendo crescer a popularidade dos África Negra. A juntar, a solidificação de uma sonoridade única levava o grupo às primeiras gravações na Rádio Nacional de São Tomé no início dos anos 80, década que se revelaria de enorme expansão para o Conjunto África Negra. Emídio Vaz, na guitarra solo, Leonildo Barros, na guitarra ritmo, e João Seria, na voz, formavam o núcleo duro criador de um reportório de quase meia centena de canções. Em Portugal, a banda conquistava já a atenção do público e não só. A editora Iefe Discos lançava “Angélica”, “Alice” e “África Negra 83”, três discos que nos dias que correm se tornaram autênticas raridades no mercado discográfico, atingindo valores exorbitantes nas plataformas de compra e venda de discos em formato vinil.

A par das edições, os concertos em Portugal eram também regulares. Angola, que visitaram nove vezes em extensas digressões, e Cabo-Verde, onde foram um enorme sucesso, integravam a lista de países onde se apresentavam com frequência. Os anos dourados dos África Negra chegariam ao fim na década de 90. Após o término de uma digressão pelas ilhas Cabo Verde, o tamanho sucesso desta levaria a banda diluir-se. No momento de regressar a São Tomé e Príncipe, o vocalista João Seria e o baixista Pacheco decidiram ficar em Praia. Sem a voz de Seria, a banda perderia fôlego e começaria a perder o brilho que tinha alcançado até então.

Ao longo dos últimos 20 anos, com intermitência na sua atividade, os África Negra lançaram “Cua na Sun Pô Na Buà Fa”, um disco de originais editados por meios próprios. O passar dos anos não os afastou dos palcos e continuaram a tocar com a regularidade possível em São Tomé, usando os mesmos instrumentos e material que os acompanharam durante os anos de maior sucesso. Os amplificadores Marshall e os processadores de efeitos de guitarra usados originalmente nas gravações dos anos oitenta constituem parte do segredo da magia do som e das músicas da banda. Atualmente, os África Negra são seis pessoas (voz, duas guitarras, bateria, baixo e percussão), sendo que três dos membros fazem parte da formação original: o vocalista João Seria, o guitarrista Leonildo Barros e o baixista Albertino. Este será o grupo que se apresentará em concerto no B.Leza Clube, em Lisboa, dia 22 de Junho.
Um reencontro há muito esperado com um grupo que décadas depois volta a ser a procura sonora de melómanos, colecionadores de discos e apaixonados pelas músicas do mundo

 

photos: Vitor Lopes

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