Colónia Calúnia apresenta “Yarikata” de Vulto.

A Colónia Calúnia deitou cá para fora o primeiro grande lançamento do ano. Após um single e 2 EPs editados no trimestre inaugural de 2018, é Vulto., aka Pedro, o Mau – quem assina estes 20 novos temas compilados sob o mote de “Yarikata” — termo japonês associado à metodologia utilizada para chegar a um determinado final. Uma espécie de mantra que amarrou Vulto. novamente à cadeira do seu laboratório musical, completamente isolado do exterior, para se focar novamente na sua arte. “Yarikata” é um ambicioso álbum instrumental a solo, depois de se ter dedicado à mutação sónica de vários MCs irreverentes da cena independente portuguesa, como L-ALI, Tilt, Jota ou Secta.

Após 3 long plays dedicados às batidas, do projecto homónimo ao seu anterior BIANCA 2010, editado na recta final de 2015, Vulto. retoma o trajecto que tem vindo a trilhar a solo, dedicando-se aos beats feitos em tubos de ensaio. Miligrama a miligrama, “Yarikata” foi testado ao pormenor para que pudesse envolver todo o tipo de sonoridades que pairam na cabeça do seu criador. Assumidamente firmado nos terrenos do hip hop a baixas rotações, o novo lançamento de Colónia Calúnia acaba por espelhar os princípios que se mantêm inerentes a todos os intervenientes deste colectivo: batidas que não conhecem os limites do horizonte, que visam enriquecer o já amplo espectro sónico que a música electrónica e urbana apresenta através da experimentação.

Não há samples que se possam considerar de inúteis nem instrumentos virtuais que não mereçam pelo menos uma chance nessa procura incessável pelo “novo” e pelo “fresco”. Fazendo a ponte entre música e ciência, “Yarikata” é um projecto que segue à risca os mandamentos do pai da química moderna — “Nada se perde, tudo se transforma,” disse-o Antoine Lavoisier.

São as leis sónicas do downtempo que servem de fio condutor no alinhamento de “Yarikata”, capaz de nos transportar para cenários tão distintos, sem nunca parecer que estamos a sair desta viagem de 20 temas. Da balada embriagada de amor em “Kema Pu”, após esvaziar três garrafas de tinto, ao deambular por Lisboa após uma noite de excessos ao som de “Zona”. Havendo também espaço para os sentimentos de “Pânico” ou da depressão, constatada em “Pompolimbo”. Indo ainda ao desnorteamento total à boleia de um “Veleiro” que navega ao sabor de uma ventania descontrolada.

Colónia Calúnia é um colectivo artístico composto por produtores, MCs e designers que, desde a estreia com CAFÉ, tem ajudado a promover um canto de culto nesse mundo de infinitas possibilidades que é a internet. “Yarikata” marca o alcance da meta das 10 edições no Bandcamp, todas elas pautadas pelo forte sentido de inovação e vontade de abrir novas portas, dentro desse grande universo que é a música sem barreiras da era digital.

Partilha