Cláudia Dias convida Igor Gandra para o 3º capítulo do ciclo 7 Anos 7 Peças

Estamos quase a meio da ’tour de force’ da bailarina e coreógrafa Cláudia Dias, que se propõe fazer 7 peças em 7 anos. Depois de Segunda-Feira: Atenção à Direita! e Terça-Feira: Tudo o que é sólido dissolve-se no ar – que estiveram no Centro Cultural Vila Flor em novembro do ano passado – é a vez de Quarta-Feira: O tempo das cerejas, cuja apresentação está marcada para o próximo sábado, dia 16 de março. Uma reflexão sobre o poder, com o neoliberalismo em fundo, na companhia do marionetista Igor Gandra.

 

Quarta-Feira: O tempo das cerejas estrutura-se na apresentação de uma linha cronológica composta tanto por factos ocorridos como por outros ainda por acontecer. Uma tarefa, um espaço, uma matéria e um desejo de transformação do mundo. São estas as ferramentas com que a coreógrafa Cláudia Dias e o marionetista Igor Gandra concretizam este encontro. O cenário da peça é um enorme buraco no meio de uma data de placas de gesso laminado, como se uma bola de ferro gigante tivesse caído num chão de pladur. Ao construir o espaço cénico com o mesmo material de construção usado em milhares de casas portuguesas, para logo de seguida começar a desconstruir, Cláudia Dias e Igor Gandra – o artista convidado para esta criação – fazem alusão direta a tudo o que é varrido para baixo do tapete ocidental.

 

Apesar de os bombardeamentos aéreos por parte de forças militares europeias serem hoje em dia facilmente visionáveis na internet ou na TV, a ligação entre os nossos lares e as crateras abertas por mísseis noutro lado qualquer não é tão visível assim. Este buraco negro que se vai abrir no Centro Cultural Vila Flor alude a essa ligação causal. Não se trata apenas de mostrar a responsabilidade das sociais-democracias europeias nos massacres que estão a ocorrer agora no resto do mundo. O olho negro no meio do chão é uma imagem de sinal negativo que nos revela o que está por fazer.

 

photo: Bruno Simão

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