Bob Dylan… O rei das sombras no Coliseu Porto

Muito se podia dizer do concerto de Bob Dylan na cidade do Porto, mas ao mesmo tempo pouco, também serve como crónica de um concerto atípico, mas, de Bob Dylan, podemos esperar tudo menos o normal…
O que (também) não é normal, é assistirmos a um concerto na cidade do Porto às 20 horas, sobretudo no Coliseu do Porto, mas o dia 2 de junho foi diferente.

 

A azafama já era grande pelas 18.30 onde diferentes tipos de públicos iam chegado ao Coliseu, mais ou menos engalanados, para receber o músico, o poeta, o artista, o ativista e o prémio nobel. Era o regresso à cidade de Bob Dylan, celebrado por muitos, esquecido por outros.

 

Feitas as introduções de circunstância entramos no Coliseu… Na entrada somos convidados a colocar o telemóvel numa bolsa lacrada, e rapidamente vem à memoria a canção de Bob Dylan de 1964, “The Times They Are a-Changin”, já longe dos gritos de liberdade vacilados pelo mesmo nos anos 60 e 70.

Um palco minimalista, revestido a branco, e com uma luz sóbria a divagar para o escuro. Bob Dylan é um artista que prefere atuar nas sombras, “Shadow King” na recuperação do titulo do filme concerto agora editado, e gravado em 2021, que revela uma parte musical de um dos maiores nomes da musica popular norte americana.

Para Dylan, o público está lá simplesmente para o ouvir, não o ver e ponto final. O músico entra em palco, rapidamente, colocando-se atrás do piano, debaixo de um breu em que apenas alguns dos seus caracóis são visiveis, refletidos através do jogo de luzes espelhados na bateria, que se encontra atrás do músico do Minnesota. De realçar e louvar que o sempre triste espetáculo de telemóveis em riste não se verificou. Do piano saem os primeiros acordes de “Watching the River Flow”, um original de 1971.

 

Em termos de espetáculo, tocou durante 2 horas, agradeceu timidamente duas ou três vezes com um “thank you” saído das entranhas, e apresentou a banda de forma rápida mas pouco eficaz, pois a dicção do músico já denota o alongar da idade.

De resto, nem mais uma palavra em palco, a não ser as canções que desfila com uma segurança, apesar de algumas ausencias em temas como “Most Likely You Go Your Way and I’ll Go Mine” ou “I Contain Multitudes” canções, mas como alguém referia…. “só quem conhece os originais percebe realmente as letras das canções”.

 

Em “False Prophet” ouvimos um Dylan mais contemporâneo, uma sonoridade mais atual e uma voz mais colada ao original do álbum de 2020, “Rough and Rowdy Ways

Por falar em originais, Dylan deixou de lado todos os seus sucessos, não recuperou nenhuma das canções icónicas, escolhendo um line up que alterou entre o blues, a folk a até a spoken word, num Dylan transformado por vezes em MC, desafiando o mundo para que inverta alguns dos seus pensamentos, a propósito de “Black Rider” igualmente do disco de 2020.

O cavaleiro das sombras não deixou de lado o disco de 2016, o tal que deu origem em 2021 ao filme concerto, com a sua versão muito própria de “That Old Black Magic”, um original de Johnny Mercer incluída no disco “Fallen Angels

 

Há muito que Dylan arquivou os seus sucessos, não responde e ignora o que se diz na sala. Pelo meio, e entre ovações, a sua postura em palco manteve-se, levantou-se apenas na última, quando acabou o concerto, depois de uma magistral interpretação de “Every Grain of Sand”, tema de 1981 e que retrata o lado mais intimista do músico.

No final não houve encore…

 

O artista não permitiu a recolha de imagens

 

🖋 Sandra Pinho

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