“Ao Sol” é a canção que Filipe C. Monteiro a.k.a TOMARA escolheu para apresentar o seu novo álbum “Avalanche”. A faixa evidencia desde logo uma mudança na escolha da língua – se no álbum de estreia de 2017, “Favourite Ghost“, o inglês era a base das suas letras, “Ao Sol” e o álbum que antecipa foi escrito em português. Para os mais atentos, a edição, no entretanto, de uma versão caseira de “Dias incertos” já antecipava esta escolha.
“Ao Sol” revela também uma evolução na sonoridade, com a introdução de elementos associados à estética electrónica, ainda que não se desvinculando da folk e do som da guitarra, o seu instrumento de origem. Salienta, igualmente, um reforço na componente rítmica, conjugando com habilidade as batidas virtuais com a bateria de Nuno Sarafa, músico convidado neste novo disco.
“Ao Sol” é a canção que tem a energia certa para mostrar um pouco do que será o meu novo disco, que será editado este Outono. É um disco assertivo, com nervo e com uma pulsação segura. Mantenho o olhar contemplativo, que me define enquanto autor, mas vou perdendo o pudor de assumir que tenho nas mãos o dom de mudar o que não me faz sentido.
Cantar em português talvez seja um aspecto que confere assertividade às canções, já que me incita a um discurso directo e significativo. Foi um passo importante e algo quase paradoxal. Durante a pandemia, numa altura em que globalmente estávamos unidos e síncronos, senti a urgência de falar com quem estava mais perto. Só me fez sentido escrever em português.
Photo: Melissa Vieira