Poucas bandas há como os ANATHEMA, que construíram uma carreira brilhante, e uma base de seguidores invulgarmente sólida, ao longo de um percurso em que, mantendo o seu ADN melancólico intacto, se pautou por várias mutações que levaram os músicos do doom metal inicial a uma sonoridade que, hoje, só se consegue mesmo descrever usando o nome do grupo.
Apesar de sempre se terem mostrado mais apostados em olhar para o futuro que para o passado, os britânicos liderados pelos irmãos Cavanagh têm feito também o ocasional período de reflexão e, agora, anunciam uma digressão europeia de comemoração do 10.º aniversário do aplaudido “We’re Here Because We’re Here”. Tendo, ao longo dos anos, desenvolvido fortes laços com o público luso, o grupo de Liverpool vai trazer este espetáculo celebratório a Portugal, com uma atuação única, agendada para 11 de Março de 2020, no Capitólio, em Lisboa.
Editado originalmente a 31 de Maio de 2010 pela Kscope, o oitavo álbum dos ANATHEMA foi produzido pelos irmãos Daniel e Vincent Cavanagh e misturado pelo talentoso Steven Wilson, dos Porcupine Tree. Composto na sequência das experiências acústicas levadas a cabo para “Hindsight”, “We’re Here Because We’re Here” desde cedo se afirmou como mais um passo decisivo na carreira da banda, abrindo o leque das belas paisagens sonoras que viriam a explorar, aproximando-as da perfeição, nos discos subsequentes – “Weather Systems”, “Distant Satellites” e “The Optimist”.
Precedido por dois singles, “Dreaming Light” e “Everything”, o disco, que marcou a despedida do teclista Les Smith e a estreia de Lee Douglas na voz, estremou ainda um pouco mais os laços emocionais que se podem estabelecer entre quem cria e ouve música. A provar que há, afinal, bandas capazes de criar canções que nos podem afetar emocionalmente de formas que nunca poderíamos ter imaginado, a audácia do grupo foi recompensada com aplausos unânimes, da imprensa, dos fãs, dos seus pares e da indústria em geral, incluindo o primeiro lugar no top anual da revista Classic Rock na categoria “Best Prog Album”.
Ao lado dos Paradise Lost e dos My Dying Bride, os ANATHEMA completaram a tríade do doom britânico no início dos anos 90, ajudaram a estabelecer os parâmetros para a fusão death/doom e cimentaram-na, por direito próprio, como subgénero da música extrema. Abraçando o imaginário gótico e cinzentão tipicamente britânico, entre lápides cobertas de musgo, os músicos de Liverpool assinaram, no espaço de quatro anos, várias das pedras basilares do estilo. “Crestfallen”, “Serenades”, “Pentecost III” e “The Silent Enigma” estabeleceram a sonoridade, influenciaram toda uma geração e viram o nome da banda inscrito no panteão da música lenta e pesada.
Desde “Eternity”, em 1995, inspirados pela imensidão de grupos que tentavam recriar o que tinham feito, optaram por uma visão mais melódica, atmosférica e progressiva, que deu origem a outros tantos títulos um pouco diferentes mas igualmente marcantes – “Alternative 4”, “Judgement”, “A Fine Day To Exit”, “A Natural Disaster”, “We’re Here Because We’re Here”, “Weather Systems” e “The Optimist”.