Adriana Calcanhotto sem “Margem” na Casa da Música

11 anos separam o disco “Maré” de “Margem” de Adriana Calcanhotto, que foi este terça feira apresentado na Casa da Música… São 11 anos de amadurecimento…. São 11 anos de erosão e polimento das canções que compõem este último álbum da triologia ao Mar. Canções que segundo a artista já andavam por aí deste os outros álbuns mas que nunca chegaram a ser tocadas nos concertos ao vivo e que acabaram por ser o mote para este álbum agora editado.

O concerto de regresso à Casa da Música começa com “Maré”, seguindo-se “Porto Alegre” e “Mais feliz”. Em “Dessa Vez” a cantora despe a rede com que se apresentou e veste o violão que tão bem lhe assenta. “Devolva-me”, que se segue no alinhamento, ganha nova roupagem com o acompanhamento da banda na parte instrumental bem como nos back vocals. Do público chegam, além dos aplausos no final, os primeiros assobios como sinal maior da aceitação ao tema.

O ambiente fica mais calmo ao som de “Quem Vem Pra Beira do Mar”, ouvindo-se de fundo as ondas a enrolar na areia, assim como as suas palavras, cantadas, enrolam nos nossos ouvidos sedentos de poesia. Pelo meio encontramos “Futuros amantes” seguindo-se “O príncipe das marés”, que inicia a melodia com sonoridades a transportar-nos até as arábias. O beat solto pela bateria casa na perfeição na forma como o poema é lido, e Adriana arrisca-se a dançar em palco.

 

Segue-se “Maresia” e surgem os primeiros abanos de cabeça, arrancando-se as primeiras palmas no acompanhamento rítmico.

A luz baixa sobre Adriana, de uma forma suave, só se vendo o seu contorno. À primeira estrofe “Entre por essa porta agora”, o público reage, não fosse esta uma das mais bonitas canções de amor alguma vez escritas. A luz sobe e é o público que acompanha Adriana na canção.

O aplauso efusivo que se faz sentir no final da música, dá lugar a um aplauso ritmado pedido pelo baterista, no início de “Marítimo”. Os aplausos baixam de intensidade para se ouvir a voz ténue, regressando na parte instrumental. Adriana pega num borrifador e num microfone ‘especial’, apresentado assim os músicos que a acompanham com uma voz de quem está a falar através de um rádio antigo.

 

Poetisa, pensadora, ensinadora, Adriana fez uma homenagem a José Mário Branco e lança uma mensagem política de salvar a Amazónia. Uma luz dura acende-se sobre a artista e duras são as suas palavras em “Ogunté” não deixando ninguém indiferente a sua mensagem. De seguida, o ambiente altera-se, tudo por conta de “Lá Lá Lá”, onde as palmas são uma constante ao longo da música.

Margem” segue-se no alinhamento e a cantora faz uma vénia a quem a está a assistir. Os ritmos árabes voltam, e Adriana arrisca-se mais uma vez a dançar estas sonoridades tudo por culpa da canção “Meu Bonde”, com as luzes a acender e apagar se num ritmo marcante encerrando o concerto.

Maravilhosa’ ouve-se do público… no regresso para o encore, a artista fala do tempo… do tempo de já não termos o privilégio de sermos contemporâneos de José Mário Branco. Um ramo de cravos vermelhos permaneceu em cima do amplificador marcando a presença dele, José Mário Branco, no concerto. Esses cravos foram distribuídos pela primeira fila no momento que antecedeu a homenagem. Adriana declamou ainda o soneto de Camões “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades… “ Confessou que pensou em canta-lo mas a forma como os brasileiros dizem as palavras achou que não ia ficar bonito por isso o declamou. Reconheço que um ligeiro enevoado tomou conta dos meus olhos tão sentidos” foram as palavras ditas mesmo em português do Brasil.

“Eu fico assim sem você” era sem dúvida o tema perfeito deste que foi um grande concerto e que terminou com ovação em pé. Mas o público não deixou e os músicos regressaram ao palco.

Eu não formei uma banda, eu peguei uma banda. Assim é mais fácil. Eles quando tocam sozinhos são o Tou no trio. Eles quando estou no Porto são Tou no Porto. “

Esquadros” é a derradeira música e a artista abandona o palco de cravo em riste sob uma chuva de aplausos

 

Reportagem / Fotografias: Júlia Oliveira

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