“A Fera na Selva”… de Marguerite Duras no CCB

A Fera na Selva (The Beast in the Jungle, Henry James, 1903) recria em conto a angústia de dois seres em vertigem sobre o grande espanto que é viver. A ansiedade, o medo, a cautela perante o que virá, vai assim modulando uma relação cúmplice, um tempo dilatado de convívio, um quase-ritual-quase-iniciático, aos meandros de uma escuridão que também é nossa, dos leitores.

 

Duras apoiando-se na adaptacão dramática do texto, de James Lord (com quem colabora numa primeira versão, nos anos sessenta), recria na sua Fera final (1981), este labirinto psíquico de revelações e ocultações, de simulacros e frustrações, que habita também toda a sua escrita. O trabalho de encenar este texto, e interessa frisar que mais do que um espectáculo, A Fera na Selva será um trabalho de texto, prende-se não só com o prazer de reconhecer os rostos de John Marcher e Catherine Bertrham em dois actores singulares, Margarida Marinho e Filipe Duarte, mas sobretudo em praticar em cena as paisagens emocionais, os vocábulos superlativos de James, filtrados na lendária música durasiana que nos deu India Song ou Savanah Bay.

 

A fera que no fim surgirá da densa selva e nos saltará ou não para cima, hedionda, inqualificável e implacável na sua predação, continua à espreita. À nossa espreita. Encenação de Miguel Loureiro e interpretação de Filipe Duarte e Margarida Marinho.
De 4 a 6 de Outubro no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém.

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