“13”… uma espécie de comédia negra sobre as aparições de Fátima

O mundo anda estranho e inquietante, não se duvida, mas ainda é possível não desesperar completamente – pelo menos enquanto for possível, por exemplo, sorrir de coisas relativamente sérias. É o que sucede na peça “13”, da companhia Peripécia Teatro, que esta quarta-feira sobe ao palco do Teatro Municipal de Matosinhos-Constantino Nery.

 

Estreado em 2017 para assinalar o centésimo aniversário das aparições de Fátima, “13” é um espetáculo contra a corrente de um mundo devolvido à visão unívoca aos fanatismos políticos, étnicos, morais e religiosos. Não satiriza o dogmatismo nem segue uma linha épica sobre as três crianças que, num Portugal profundo, em plena Primeira Grande Guerra, procuram na fé o amor e a proteção que lhes faltava. “13” visa, isso sim, estimular a reflexão, encontrando na ironia, por vezes amarga, um veículo privilegiado para incitar ao funcionamento do pensamento crítico.

 

Partindo de uma frase do escritor Ray Bradbury, autor de “‎Fahrenheit 451”, segunda a qual “a Ciência não é mais do que a investigação de um Milagre inexplicável, e a Arte a interpretação desse milagre”, “13” conta com a direção de José Carlos Garcia e procura agitar as consciências de um tempo que ameaça transformar em realidade mesmo as mais obscuras distopias – da hora do ódio de Orwell à ignorância de um mundo sem livros (ou com livros ocos, o que vai dar ao mesmo).

 

Para agitar os cérebros entorpecidos, a Peripécia Teatro juntou ao cânone mariano algumas histórias verdadeiras e outras totalmente inventadas e até absurdas, criando um momento teatral controverso, estreado, não por acaso, em maio de 2017, apenas a 40 quilómetros de Cova de Iria. Dava para ir a

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